quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Camelo

Essa semana eu vi um camelo. Ou melhor, vi dois! Cada um puxando a sua carroça em uma caravana que passava por mim.
É bom lembrar, para aqueles que são ruins de geografia, que a Índia não é Arábia ou Egito onde os camelos são mais comuns como meio de transporte.
Enfim, foi é primeira vez que vi camelos fora de um zoológico. Pena que não estava com a máquina fotográfica em mãos.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Viajando pela India

Outro dia, conversando com o Richárd pelo MSN, ele disse uma coisa que me fez pensar um pouco sobre minha situação.
Eu estava dizendo que, quanto mais eu trabalhar aqui, melhor. Acho que isso faz com que o tempo passe mais rápido, afinal “o tempo voa quando a gente se diverte”.
Ele ficou impressionado e disse que eu tinha mais era que aproveitar minha estadia na Índia conhecendo as coisas. Isso me fez refletir sobre a possibilidade de viajar pela Índia e vou escrever aqui o que disse a ele e um pouco mais.
Todos vêem a Índia como uma cultura milenar e muito diferente. Acreditam que vir para cá é fascinante e que irá conhecer lugares ao mesmo tempo muito bonitos e impressionantes.
A verdade é que esses lugares estão aqui sim. E uma viagem pela Índia é, no mínimo, muito interessante. Para nós, brasileiros, que temos uma história de 500 anos, estarmos em um país milenar é muito diferente. Existem coisas que estão aqui a milhares de anos e, algumas, demoraram centenas para serem construídas.
Mas a estrutura da Índia deixa a desejar. Aqui não é a Europa onde você pega um ônibus, trem ou até mesmo aquelas companhias aéreas super baratas e sai, com a mochila nas costas para conhecer outros lugares, planejando encontrar algum albergue onde possa dormir para seguir sua viagem.
As estradas aqui são ruins. Só agora a Índia está investindo na construção de Autovias, mas ainda é algo pontual, não existe uma malha feita, apenas alguns trajetos. Isso inviabiliza uma viagem de ônibus pela longa duração. Para ter uma idéia, a viagem de ônibus de Mumbai a Baroda (onde estou) dura umas 8 horas, para um trajeto de menos de 400 km.
Trem é uma opção muito usada aqui na Índia. Mas também não são nada rápidos, o mesmo trajeto dura 6,5 horas. Além disso, ainda não olhei, mas tenho dúvida quanto ao conforto e qualidade da viagem, todos os trens que passaram por mim até agora estavam meio lotados.
Avião é a melhor opção de conforto e rapidez, mas aqui não existem muitas companhias e opções de vôo, muito menos vôos baratos. Ou seja, tem que economizar uma grana para essa viagem.
Outro fator muito importante: hospedagem. Na Índia não dá para se hospedar em qualquer lugar. Água e comida não são confiáveis. O problema da água em alguns lugares não é só para beber, mas para tomar banho e escovar os dentes também. A comida, além de picante e diferente, também tem problema de higiene. Portanto tenho que desenvolver minha resistência antes.
Mais um ponto que não facilitam as viagens é o calendário de trabalho na Índia. Ter só um dia de final de semana e pouquíssimos feriados no ano (nenhuma ponte), dificulta para qualquer um.
Somando tudo isso ao fato de eu estar totalmente sozinho para viajar e que isso, ao menos para mim, é um fato que pesa, as viagens se tornam mais complicadas.
Mesmo assim, apesar desses vários obstáculos, tenho três viagens planejadas. Ahmedabad á a capital do estado, uma cidade maior, com mais opções de passeios, vou tentar ir para passar o dia. Mumbai, a capital dos negócios na Índia, a maior cidade do país em população, o primeiro dois dias de folga seguidos que tiver eu irei para lá. E Delhi, a capital do país, incluindo Agra onde está o Taj Mahal, vou para lá antes de ir embora e passo alguns dias.
Se conseguir fazer essas três já estarei muito satisfeito e, dentro do possível, terei aproveitado bem minha passagem por aqui.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O transito

Esse assunto merecia uma postagem especial. Vou tentar descrever aqui o que só é descritível com os olhos.
Uma frase resume o transito aqui: Pura emoção! A regra aqui é cada um por si e os outros que se virem. Isso causa um caos sem tamanho.
As pessoas não olham para os lados ou para trás quando dirigem (na maioria dos carros os espelhos laterais estão recolhidos ou não existe, o interno também não é usado), por isso tem que buzinar o tempo todo. Funciona como as motos na cidade de São Paulo, só que todos fazendo isso. É muito comum ver caminhões com os dizeres “Horn, please” em suas traseiras, para que eles saibam que você está por perto.
Outro dia me dei ao trabalho de contar e o meu motorista teve a iniciativa de buzinar – e aqui contam uma buzinada, buzinadas longas, buzinadas seqüenciais – 81 vezes em trajeto de, aproximadamente, 8 km. Isso é uma buzinada a cada 100m!
Outra coisa louca é que o transito se divide em carros, motos, riquixás, bicicletas, pedestres, vacas, búfalos e cabras, todos dividindo a mesma rua. E, como aqui não tem calçada com guia e de cimento – são todas de terra, no mesmo nível da rua – é comum as pessoas desviarem ou pegarem “atalhos” por onde só deveria ter pedestres e, o mesmo motivo, leva os pedestres a utilizar a rua.
Perguntei de onde vem tanta vaca e me disseram que muita gente tem vaca para tirar leite, mas as deixam soltas para que se alimentem nas ruas e depois voltem para casa. Outras são vacas velhas, que não dão mais leite e não podem ser mortas já que são sagradas, então são abandonadas nas ruas até morrerem.
Devido ao transito caótico os veículos aqui são, em geral, pequenos. Riquixás são usados como taxi, furgão, caminhonete e caminhão. Moto aqui é o carro da família, não é raro ver mais de duas pessoas em uma moto, famílias com crianças na moto. O recorde até agora foi uma moto com quatro marmanjos em cima.
O resultado de tudo isso são veículos andando, preferencialmente, na esquerda (aqui é mão inglesa), em geral não estão no melhor estado de conservação, principalmente riquixás e caminhões, e pequenos arranhões ou amassados nos carros são comuns.
No meio de tudo isso, o mais impressionante é que não se vê acidentes. E não é que só andam devagar, mas acho que o cuidado com o outro é muito maior, o fato de só olhar pra frente faz com que os motoristas não se distraiam também. Mas, obviamente, isso não é motivo para tornar isso um padrão internacional de trânsito.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Lei do Mijadouro

Existem leis que não estão escritas em lugar nenhum mas são conhecida de todos. Uma dessas leis, divulgada mundialmente, é a lei do mijadouro descrita abaixo:
Art. 1: Sempre que, em um banheiro, existir uma fileira de mijadouros, você deve se colocar na posição mais longe possível de qualquer outro usuário.
Art. 2: Se você entrar no banheiro e não tiver ninguém usando, se coloque na posição em que o próximo possa ficar o mais longe possível de você.
Qualquer homem, de qualquer país conhece essa lei e a segue como se um guarda o fosse multar pela transgressão.
Qualquer homem menos aqui na Índia! Puta merda! Você ta mijando feliz e contendo no mijadouro da ponta, entra um infeliz e encosta do seu lado. Também não é raro entrar no banheiro e o cara está usando o mijadouro do meio dos três.
Só tenho uma coisa a dizer sobre isso: sem comentários...

Pleasure to meet you, Guil-Herme Carval!

Minha mãe me deu um nome muito difícil de ser falado em outras línguas. No Chile já tinha dificuldades, aqui na Índia ninguém consegue falar meu nome com facilidade ou certo.
O resultado é que aqui meu nome mudou para Guil-Herme Carval (Lê-se guil rerme carval). E, como Guil é um nome indiano, já estão me chamando de Guil.
Uma coisa boa que descobri aqui é que 'Carval' em híndi significa algo como “get the things done”. Bem imponente, não? Talvez isso seja importante para o trabalho aqui.
Por isso, da próxima vez que você me encontrar, ou me apresentar para alguém, não estranhe se eu disser: ‘Pleasure to meet you, Guil-Herme Carval’.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Balanço Primeira Semana

Depois de uma semana aqui na Índia já posso fazer um balanço geral do que foram minhas primeiras impressões e o que estou achando daqui. Vou fazer isso por tópicos para ficar mais fácil para estruturar e para vocês lerem só o que querem saber.
  • A cidade: Baroda, ou Vadodara, é uma cidade de aproximadamente 2 milhões de habitantes. É considerada pequena para os padrões indianos (é a terceira maior do estado de Gujarat). Ainda não andei muito pela cidade para falar bem ou mal dela, sei que tem algumas construções antigas, como em qualquer cidade na Índia, e alguns shoppings.

  • Diversão: Por ser o estado onde Gandhi nasceu e começou sua peregrinação pela independência da Índia, as autoridades decidiram homenagear ele proibindo bebidas no estado. Agora, se imagine numa sociedade sem bebidas e, conseqüentemente, sem bares, sem boates, a pergunta que vem na cabeça é: como as pessoas se divertem e se socializam? A resposta é: não faço a mínima idéia! Talvez seja cedo para falar disso, mas, aparentemente, as pessoas não fazem muitas coisas aqui, principalmente de noite, mas com o tempo vou ver se descubro alguma coisa.
  • Morada: Estou morando no Taj Residence Hotel. É um hotel mega-chique que eu, caipirão, quando cheguei nem sabia o que fazer direito. Todos são super cordiais, te ajudam, é bom dia para cá, como vai para lá, te oferecem ajuda para tudo. Muito diferente dos hotéis que estava acostumado no Brasil.
    Tem uma piscina bem grande e um gramado nos fundos onde dá pra bater uma bolinha (só falta saber com quem). Tem também uma academia muito boa, com esteiras, bicicleta, aparelhos de musculação e pesos.
    O quarto também é bom, grande, tem uma mesa onde uso o computador e as vezes faço as refeições, um sofá muito bom para ver televisão, uma cama confortável – Ah! Aqui tem um menu de travesseiros, com umas oito opções diferentes para você escolher o que mais te agrada – uma copa com chás, café e leite solúveis e um aquecedor de água. O banheiro também é excelente com água quente e fria em todas as torneiras.
  • Rotina: A falta do que fazer a noite e a mudança de fuso horário me fizeram uma pessoa um pouco mais saudável. Todos os dias acordo 6:00 e vou até a academia caminhar. Volto tomo banho, falo com o Brasil, e vou para o café da manhã.
    Saio de casa umas 8:20 para o trabalho, aqui o pessoal entra as 9:00 e sai as 18:00. Chego em casa umas 18:30, vejo um pouco TV, fico na internet, falo com o Brasil de novo e, no máximo, as 22:30 eu estou dormindo. O próximo passo é malhar um pouco quando volto do trabalho.
    Faço isso da segunda a sábado (sim, aqui eles trabalham de segunda a sábado e vou ter que seguir esse horário) e domingo, que só tive um até agora, descanso. Mas, por essa semana que passou, eu posso dizer que um dia só de descanso é pouco. Hoje estou tão cansado, ou mais, que sexta-feira, você acaba não desligando. Quero ver o Pastinha falar que eu não trabalho agora!
  • Alimentação: Sem nenhum problema! Pelo contrário, estou comendo muito bem. A cozinha do hotel é excelente, com várias opções de prato indiano, chinês e internacional. Todos eles são um pouco picantes, mas quem me conhece sabe que eu gosto. Lógico, não rola aquela picanha ao alho, mas entre peixe, galinha e cordeiro a gente se vira bem por aqui.
    Na fábrica o hotel manda todos os dias a comida. Sempre é algo mais simples, mas não ruim. Ainda não me arrisquei na salada aqui, mas, outros brasileiros que estão aqui, já me disseram que não tem problema algum.
    Café da manhã tem de tudo: pães, queijo, manteiga, geléias, café, chás, leite, sucos, frutas, ovos, bacon, salsicha, etc. Normalmente como croissant, frutas e tomo café com leite. Também sem nenhum problema.
    Resumindo, a fome que achei que ia passar não existe, meu intestino, que estava tenso com a situação, está tranqüilo, sem esforços ou abalos e minha expectativa de perder 15 quilos no meu período aqui vai ter que ser na base da malhação.
  • Trabalho: A fábrica aqui é boa, nada diferente das fábricas no Brasil. Lógico que tem problemas, senão eu não estaria aqui, mas não é nada que torne meu trabalho diferente ou desagradável.
    As pessoas foram muito receptivas, me deixaram bem a vontade para trabalhar e buscam suprir todas minhas necessidades, inclusive aquelas que não tem a ver com o trabalho. Minha equipe parece muito bem preparada, são inteligentes, conhecem bem a fábrica e estão bem entusiasmados com o trabalho. Acho que não vou ter maiores problemas.
  • O idioma: Sotaque indiano é foda! Entender os caras no início foi difícil, agora já estou me acostumando e entendendo mais o que eles dizem, mas toda hora eu solto um “sorry?”. Na verdade, vai de pessoa para pessoa, alguns são um grande desafio entender, outros são tranqüilos. Mas, em um país onde as palavras ‘to’, ‘too’ e ‘two’ têm todas a mesma pronúncia, ‘tu’, as vezes uma frase pode ser bem difícil.

Bom, já escrevi demais. Tinham outros assuntos que queria abordar, mas vou deixar para depois. Acredito que já dei uma idéia do que vi na minha primeira semana aqui.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A Viagem

Saí de Guarulhos na quinta-feira, dia 07, direto para Paris chegando lá na manhã seguinte. Fiquei por lá 24hrs, o suficiente para ver a Torre Eiffel, Museu das Armas, Louvre e Notre-Dame. Lógico que não entrei em nenhum deles, só passei pela frente, mas achei a cidade fascinante. Agora tenho uma melhor noção de onde ficam as coisas lá e, quando voltar, vou poder planejar bem meus passeios.
A chegada na Índia foi um pouco cansativa. Após nove horas de viagem cheguei por volta de meia-noite em Mumbai, tive que mudar para um aeroporto doméstico e esperar até as cinco da manhã para partir para Baroda.
Cheguei em Baroda e um taxi estava esperando para me pegar. Fui direto para o hotel e no caminho vi muito pouca coisa, já que era muito cedo e a cidade estava tranqüila. Mas a cidade é muito parecida com o que eu imaginava: vacas nas ruas, pessoas miseráveis e um mix de cultura indiana e ocidental.
Passei praticamente todo o dia dormindo, estava muito cansado de toda a viagem e a mudança de fuso. Hoje fui para o meu primeiro dia de trabalho, mas essa é outra história e fica para próxima postagem.