quinta-feira, 27 de maio de 2010

Alá-lá-ooooooo

Sei que o assunto já é batido e tampouco é interessante, mas é que não tem como não falar. Já postei no passado sobre o calor que faz na Índia. Mas acho que nunca peguei o calor de “ponta a ponta” como agora. Em 2008 tive férias em Abril, em 2009 em Junho e agora estou aqui no ápice do verão e, conseqüentemente, calor indiano.
O dia já começa gostoso, na hora em que eu acordo, umas 7:30am, já estamos em volta de 30oC. E daí sobe para 43oC-45oC em questão de algumas horas. E fica assim o dia todo. A noite, depois que o sol desaparece lentamente a temperatura abaixa, mas não para padrões normais. Outro dia 1:30am estava 31oC por aqui. Ok! A conversa está muito de engenheiro, vou parar de citar números, mas foi só para dar uma idéia do cenário.
O fato é que com esse calor todo começo a entender o que não entendia no passado: por que as monções são tão festejadas se só trazem doenças, destruição e muita gente desabrigada. A chuva dá uma mãozinha para diminuir a temperatura.
O tempo já começou a mudar, acredito que mais uns 15 dias já estará chovendo. Mas não é só alegria, a tal mudança no tempo são ventos, que normalmente não existem, no final da tarde e agora, durante o dia também.
O vento trás consigo poeira, muita poeira. A casa fica uma imundice só. Como disse uma amiga aqui: a casa se suja mais rápido do que possível limpá-la. Outro dia cheguei na minha cozinha e parecia que eu estava no campo de tanta terra.
É a história do cobertor curto: melhora um lado, estraga o outro. Quando começar o chover com certeza haverão os alagamentos por aqui, dificuldade de chegar ao trabalho e sabe-se lá como minha nova casa se comportará na chuva.
Melhor época para vir para Índia? De metade de Outubro até Fevereiro. Não é tão quente, não venta e você não verá uma nuvem no céu.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Lições de um Engenheiro de Tráfego Indiano - 1 (Adendo)

Esqueci de dizer que , nesse cenário as pessoas dirigem como querem, sendo assim todas as opções de caminho são permitidas. Fiz o exemplo abaixo só para se ter uma idéia, agora imaginem carro vindo das quatro pistas fazendo o mesmo.

domingo, 16 de maio de 2010

Lições de um Engenheiro de Trafego Indiano - 1

Uma das coisas que mais impressiona aqui é o transito. Como já disse em algum post em um passado distante: não descritível, é preciso ver com os próprios olhos para entender a dimensão do problema e a emoção de estar dentro dele.
O problema passa sim pela educação, respeito às leis e ao próximo, mas vou explorar esse tema mais para frente. O problema começa na maneira como o transito é sinalizado, estruturado e construído.
Nessa série vou tentar passar com ilustrações como são essas coisas por aqui. A primeira dela é o cruzamento entre duas avenidas. As avenidas são largas, sem faixas, e a rotatória é sempre minúscula. Acho que eles não entendem o princípio de rotatória por aqui, pensam que é simplesmente um enfeite, uma praça, a idéia de construí-las para redução de velocidade, distribuição de rotas não existe.



Fronteiras

Outro dia, lendo o livro “Desvendando os Segredos da Linguagem Corporal” de Allan e Barbara Pease, eles expõem que pessoas têm uma zona territorial e que, dependendo da cultura, podia ser maior ou menor. Sabe quando tem muita coisa a sua volta na mesa do almoço? Aí isso te incomoda e você começa a afastar tudo? Pois é, isso te incomoda porque os objetos estão dentro de sua zona territorial.
Enfim, comecei descrevendo isso sei lá o porquê. Não vou discutir territórios pessoais, mas territórios mesmo e o fato de que aqui na Índia, mais precisamente no Bafodão, isso não existe. Aqui muros não são para colocar limites, são apenas para dizer que... Sei lá! Apenas estão lá.
Explicando melhor: Muros por aqui são baixos, em geral entre 1 e 2 metros, não mais que isso. Aqui em casa, todo final de tarde, as crianças do condomínio entram no meu quintal como se fosse uma extensão da casa delas. Entram de bicicleta, correm, gritam, pulam o muro para um lado, pulam para o outro. Não raramente chego em casa e encontro bicicletas “estacionadas” na minha garagem.
Minha casa fica de lado para área comum do condomínio: um grande gramado, com brinquedos para crianças e um salão de jogos e ginástica. A saída dessa área fica do lado oposto ao da minha casa, razão pela qual, quando precisam ir para as casas do lado da minha simplesmente atravessam o meu jardim, pulam na minha garagem e continuam como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Hoje de manhã mais um exemplo dessas “invasões” aconteceu. Acordei e, como todos os dias, segui meu ritual de abrir todas as portas para que o ar circule e a casa fique mais fresca. Qual não foi minha surpresa quando abri a porta da frente e dei de cara com um carro na minha garagem? Continuei abrindo as portas e cortinas e vi que estava tento uma festa no vizinho. Fiquei olhando para lá, lógico que o carro era de algum convidado sem noção.
Uns cinco minutos depois veio um cara para o carro e pensei comigo “Beleza, alguém avisou o sem noção que tem gente aqui e ele veio tirar o carro”. Fiquei de olho, o cara abriu a porta, entrou no carro, fechou a porta e... pegou o celular e começou a conversar!!! Não fez nem menção de ligar o carro! Fui lá! Cheguei na janela e perguntei para o cara – “Você vai tirar o carro?” – resposta: “Guereguereguere”. Nada me irrita mais do que um Mané indiano olhar para mim, com meu semblante o cor de pele que me denunciam que não sou indiano e começar a falara em híndi.
Cortei o cara com meu mais fino híndi: “Hindi nahim hain! English only!”“Sorry, sir. No English”“Are you moving the car?” – acompanhado com um gesto com as mãos – “Yes, sir”. Entrei em casa e o cara tirou o carro.
Mas vai ser sem noção assim lá em Baroda!!! Se eu não fosse lá, certeza que o cara ia deixar o carro na minha garagem. Enfim, como diz no slogan turístico: “Welcome to incredible India”.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

E se?...

A vida é feita de milhares de “ses”: a todo o tempo há caminhos diferentes a serem tomados, decisões a serem feitas. Das mais insignificantes às enormes. Das feitas pelo subconsciente àquelas que pesam na consciência. E, as vezes, quando bate o arrependimento nos perguntamos “E se tivesse feito isso diferente?” ou “E se isso não tivesse acontecido dessa maneira?”.
Há algum tempo atrás, eu e a Bá decidimos ter um cachorro aqui na Índia. Uma maneira de se distrair mais, ter alguém para cuidar, além um do outro e também uma companhia para ela enquanto eu estivesse no trabalho.
Teria que ser um cachorro pequeno de modo a não dar muito trabalho na viagem de volta ao Brasil. A princípio pensamos em um Chiuaua. Uma amiga nossa comprou uma aqui e a cachorra é extremamente amável e companheira. Até tentamos entrar em contato com o mesmo vendedor mas ele não pareceu muito interessado em vender. Depois de vários emails, liguei para ele e mesmo assim não respondeu.
Procuramos alternativas. É bom destacar que Baroda é tão fim de mundo que não achamos nenhuma referência de canil por aqui. Achamos um Shi-tzu que teria que vir de Bangalore, do outro lado da Índia. O dono nos atendeu rápido, combinamos o preço e decidimos pegar uma fêmea.
No dia de enviar ele me ligou e me disse que eu teria que ir 9:00pm no aeroporto de Ahmedabad para pegar o cachorro. Disse que não tinha condições, Ahmedabad é a 150km daqui, duas horas de viagem, para pegar um cachorro a noite e voltar. Iria chegar em casa com certeza depois de meia-noite para trabalhar no dia seguinte. Ele fez um esforço e conseguiu arrumar de enviar o cachorro até Goa e de Goa um outro amigo, também criador, enviaria o cachorro direto para Baroda.
O que foi feito, na última quinta-feira a noite o cachorro chegou à nossa casa. Cuidamos dela, levamos ao veterinário para uma avaliação geral e combinamos de começar as vacina e vermífugos a partir da segunda-feira – a veterinária não confia em nenhum desses caras de canil, então mesmo ele dizendo que já tinha dado as doses necessárias ela prefere começar tudo de novo.
Estava tudo bem até domingo de manhã. Saímos para almoçar na casa de uns amigos e, quando voltamos, ela estava toda desanimada, havia vomitado e estava com diarréia. Ligamos para a veterinária, mas ela não estava em Baroda, só voltaria a noite.
A cachorra, batizamos ela de Zoe, ficou assim o dia todo, apenas a noite comeu um pouco e, achando que ela estava melhor, mandei uma mensagem para a veterinária dizendo que estava tudo bem e que no dia seguinte levaríamos ela no consultório. Mas ela não melhorou, vomitou o que comeu alguns minutos depois e mais algumas vezes durante a noite.
Na manhã seguinte a levamos à veterinária que achou que ela deveria estar com alguma irritação no estomago, daria soro e ela ficaria bem. Durante o dia fez exame de sangue e fezes e constatou uma grande infestação de vermes. Ela resolveu passar a noite com a Zoe para cuidar dela e no dia seguinte daria o vermífugo.
No dia seguinte a Zoe não reagiu bem. Depois do vermífugo começou a vomitar sangue. Ela já era pequena e frágil, quando chegou tinha 600g, mas agora, doente, deveria estar com, no máximo, 300g.
A noite ela não resistiu e morreu. No final, o que era para ser uma grande alegria, se tornou uma alegria passageira e tristeza por uma vida tão nova ter se rompido tão de repente. É nessas horas que o “E se?...” vem na cabeça: “E se tivéssemos pegado o Chiuaua?”,”E se não a tivéssemos enviado através de Goa?”,”E se tivéssemos feito exames assim que ela chegou? “,”E se a veterinária estivesse disponível no domingo?”, “E se?...”
Ao mesmo tempo “E se nada disso tivesse acontecido?”, ainda seríamos os mesmo? Será que essa experiência serviu para alguma coisa? Algum aprendizado? Vai saber...

sábado, 1 de maio de 2010

Enferrujado...

Quase três meses sem escrever. Alguns já pensando seu havia aposentado. Não, não me aposentei. Foi apenas um período de afastamento.
Nesses últimos três meses aconteceram várias coisas. A primeira e talvez a que mais tenha impactado nesse “afastamento” foi que mudei de casa. Cansei da obra atrás da minha ex-casa. Era poeira, pobreza, crianças abandonadas e, principalmente, barulho. Aqui o pessoal ainda segue um regime escravista, a obra começava umas 7:30am e só parava 10:30pm. Era martelada a noite toda. Sem contar quando lá para meia-noite algum caminhão chegava para descarregar.
Enfim, até que sem muitas complicações, conseguimos mudar para uma nova casa. A casa tem coisas melhores e piores que a última. Mas no geral é muito boa. O problema é que o cabo da internet não chega aqui. Então demoramos quase um mês para descobrir uma internet alternativa e mais um mês para instá-la, já que no meio disso teve uma viagem ao Brasil.
Também perdi minha avó, bem no final de março. É diferente perder alguém estando longe. Você não fica envolto naquele ambiente triste que se forma, então a tristeza é realmente só sua, pura, já que não tem influências externas. De longe, talvez, a despedida seja mais fácil – você não vê, apenas pensa, lembra de momentos e grava na memória o quanto essa pessoa foi importante na sua vida. E tudo isso se torna saudade, uma saudade alegre, mas ainda saudade, que dá uma pontada de dor de vez em quando.
Mas, passando agora para uma parte mais animada, tive no Brasil no inicio de abril. Voltei de férias, por duas semanas e meia, mas também para fazer a festa do meu casamento. A festa foi 10! Pude rever várias pessoas e botar o papo em dia. A festa, em si, não aproveitei muito, talvez os noivos nunca aproveitem, passa muito rápido. Mas fiquei feliz de ver que as pessoas gostaram e se divertiram.
Agora vou ver se volto mais aqui para contar o que está havendo, ou para colocar mais das minhas opiniões, analises e aprendizados. Desenferrujando os dedos, a mente e o português, que anda um desastre...