quarta-feira, 30 de junho de 2010

Lições de um engenheiro de trafego indiano - II

A intersecção entre avenidas aqui também é uma obra digna de por Niemeyer no chinelo. Como o Engenheiro de Trafego Indiano gostou da solução da rotatória ele resolveu aplicá-la para todas as soluções.
Enquanto no Brasil as intersecções entre avenidas (pelo menos as mais movimentadas) são acompanhados de um sinal de três tempos para que todos tenham a sua vez de passar, aqui no Bafodão as intersecções têm uma rotatória.
Muitas vezes, essas rotatórias são acompanhadas de um semáforo – as vezes móvel (isso mesmo, sobre rodas), as vezes fixo - que, na falta de obediência, também leva um oficial de trânsito a tira-colo.
Com toda essa estrutura a falta de educação, cidadania e desrespeito ao próximo prevalece e, mesmo assim, o motorista faz o que quer ( e muitas vezes o que não quer também).

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Os Cinco Macacos

Cientistas colocaram cinco macacos em uma sala onde, ao centro, se encontrava uma escada e, acima dela, um belo cacho de bananas. Obviamente ao verem o belo cacho os macacos, imediatamente, se animaram e se puseram a buscar o tal.
Nesse momento, fortes e gelados jatos de água atingiram os macacos e os mesmos recuaram. O fato aconteceu algumas vezes até que todos os macacos entenderam que tentar pegar as belas bananas não era bom negócio.
Um dos macacos foi substituído e então, o novo macaco, não entendendo porque todos estavam se contendo para pegar o cacho se lançou nessa tarefa. Os outros macacos, que já sabiam do truque o seguraram e desceram o cacete nele em todas as suas poucas e frustradas tentativas. Então ele assimilou que aquelas bananas não eram para ele.
Trocaram, então, um segundo macaco e o mesmo se sucedeu. Trocaram então o terceiro, o quarto e o quinto, cada um a sua vez, e, como esperado, a reação foi sempre a mesma.
No final, haviam cinco macacos na sala, todos eles de olho no belo cacho de bananas e nenhum deles se arriscava a pega-los. O mais incrível é que nenhum sabia o porquê. Era apenas para manter a reação dos macacos que ali estavam antes.

Contei essa história para introduzir o problema de se copiar uma solução sem entender o porquê de ela ter sido criada. Aqui no trabalho tive vários exemplos disso, mas todos talvez complicados para expor nesse blog. Mas há pouco tempo um fato mais visualizável à todos aconteceu.
Aqui no Bafodão, não raramente a canalização passa por fora da parede. É uma solução bastante comum em países que não o Brasil. Na nossa terrinha, ligamos muito para a estética das coisas e passar um cano pelo lado de fora da parede da sua casa não parece nada bonito. Mas com um pouco de planejamento e capricho até que não fica tão ruim.
Enfim, o fato é que uma persistente goteira surgiu na canalização que vinha da descarga e chuveiro do meu banheiro. Ou seja, essências de merda e água suja pingando no chão do fundo da minha casa. Nada que cheirasse, muito pelo contrário, no calor intenso da Índia a água se evaporava poucos minutos depois de tocar o chão.
Liguei para o dono da casa que mais do que prontamente mandou um “especialista” e seu “encanador”. Ora, qualquer um com o mínimo de noção aproveitaria a vantagem de a canalização ser externa, subiria numa escada, limparia o cano, procuraria o exato ponto do vazamento e resolveria o problema com fita vedante, silicone ou, em último caso, trocando a parte do cano que vazava.
Mas os gênios do Bafodão sempre têm uma solução alternativa. E a maravilhosa idéia foi jogar concreto no cano. Isso mesmo, concreto. Pegaram pó de cimento, jogaram no ralo e depois jogaram água. “Assim o concreto vai para os buracos e resolve o problema” foi o argumento do engenheiro de encanamentos.
Lógico, nada se resolveu. O dono da casa, que é um indiano com muito mais noção da realidade, conversou com o especialista e falou para fazer o serviço direito. No final ele ainda quebrou um pouco a parede em volta do cano, passou tipo um piche para selar todas as juntas (vazando ou não) e, mais uma vez, jogou mais concreto dentro do cano.
O problema então se resolveu. Da maneira mais complicada e arriscada (imagina se o concreto entope o cano?), mas se resolveu.
Agora, qual é o sentido de se colocar o cano para fora da parede se você não usa o benefício disso? Nenhum. E esse é um dos exemplos que posso falar dos cinco macacos. A solução não vem acompanhada de seu uso. Aqui, canos para fora da parede, são apenas canos para fora da parede, nada mais. Melhor que fosse para dentro então.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Choque de Realidades

Aqui na Índia é proibido por lei dizer o sexo do bebê antes de seu nascimento. O motivo disso é que existe uma alta taxa de aborto (também ilegais) quando se descobre que está esperando uma menina.
As razões da atrocidade são três: mulheres não podem cuidar dos pais na velhice, já que os filhos homens são os provedores do lar e nenhum genro vai aceitar os sogros em casa. Segundo por que a mulher nunca leva o nome da família para frente já que, ao se casar, adota o nome do marido, assim como seus filhos. E por último, mas não menos importante, quem paga o dote no casamento é o pai da noiva.
Essa semana estava conversando com um cara no trabalho – que considero um dos mais espertos – contando que no Brasil é permitido saber o sexo do bebê e que a maioria das pessoas opta por saber. A conversa se seguiu da seguinte maneira:
“Mas no Brasil é permitido o aborto?”
“Não, não é!”
“Então qual o sentido de saber o sexo da criança se você não pode tirá-la?”
Choque de realidades é uma merda...

terça-feira, 15 de junho de 2010

Pausa para a Copa do Mundo

Copa do Mundo não é assunto sobre Índia. Na verdade, a Índia sequer passa da primeira fase das classificatórias Asiática. Mas, por mais incrível que pareça, talvez seja o único evento esportivo global – tirando copa do mundo de criquet que devem ter uns oito participantes – que os indianos sabem que está acontecendo. Mas só sabem isso: que está acontecendo. Os times, quem é bom e quem não é, quais são os favoritos, até mesmo regras, não sabem nada de nada.
Mas não importa. O que importa é que esse evento, que tem tanto prestígio na nossa nação, atinge partes do mundo em que futebol não é nem discutido. Nem as Olimpíadas têm esse alcance – aqui, durante as Olimpíadas, não teve discussão alguma.
E nossa nação está voltada para a estréia do Brasil hoje, que começa enfrentando aquela que, teoricamente, é a mais fraca das seleções no nosso grupo. Grupo esse que, assim a gente espera, será também decidido o segundo lugar hoje, já no primeiro jogo. O vencedor de Portugual x Costa do Marfim. Se der empate fica a incógnita. Registro aqui meu palpite: Portugal 2x1 Costa do Marfim/ Brasil 3x0 Coreia do Norte. Será?
Voltando ao ambiente Copa do Mundo: os anos passam e a ladainha continua a mesma. As pessoas e a imprensa (ou será “as pessoas por influência da imprensa”) criticam técnico e principalmente a convocação. Sempre tem aquele craque de muletas que desejamos ver na copa (Romário-2002/Ronaldo-2010), sempre tem aquele craque renascido das cinzas (Romário-1994/Ronaldo-2002/Ronaldinho-2010), sempre tem as revelações, sem experiencia alguma, mas que achamos que vão destruir os melhores jogadores do mundo (Ronaldo-1994/Ganso e Neimar-2010) e sempre o velho e bom dilema futebol arte ou resultados – já que os dois ao mesmo tempo já tem um bom tempo que o Brasil não tem.
Convocados ou não, futebol arte ou não, sempre sobra para o treinador, que nessa época se torna mais importante e mais polêmico que o presidente do nosso país. É muito ofensivo? Se arrisca muito, toma muitos gols. É muito defensivo? É retranqueiro, sem criatividade. Libera geral para imprensa, público e jogadores? É oba-oba, não tem pulso forte. Controla o acesso e exposição dos jogadores? É rancoroso, chiliquento e controlador. O fato é que agradar a própria mãe já é difícil, imagine 180 milhões de pessoas.
Do meu ponto de vista, não discordo nem concordo com o trabalho do Dunga. Ele tem a estratégia dele. Vejo a seleção como uma empresa. Quando se é gerente/diretor de uma empresa, não se contrata os melhores caras que estão no mercado, mas sim o melhores caras para se conseguir aquilo que você quer, que você imagina para o seu departamento - isso é bem diferente. E é isso que nosso treinador faz. Ele tem uma idéia (e muita experiência) na cabeça de como a seleção deve trabalhar. Repare que eu disse trabalhar e não só jogar. E foi isso que ele fez, chamou os melhores para compor esse ideal.
Sou a favor do futebol de resultados. O título que importa. E daí se jogou feio e ganhou tudo de 1x0? A seleção de 94 foi mais ou menos assim e, não raramente, são referidos como “os heróis do tetra”. Então está aí: só nos resta torcer para que sejamos mais uma vez campeões e que essa geração seja conhecida como “os heróis do hexa” e deixar todas essas críticas para a próxima copa, ou melhor, para o próximo técnico.
“Vamos juntos, vamos. Para frente, Brasil! Salve a seleção!!!”