domingo, 19 de setembro de 2010

Welcome to Incredible India - Propagandas - II

Essa propaganda e sobre o assédio que estrangeiros sofrem aqui:

"Posso ajudar?"
"Na verdade a gente estava procurando um brinco indiano. Você tem?"
Canastão se aproxima - "Olá princesas..."
Tentando ignorar o sujeito - "É tipo esse brinco aqui"
"O que esse bombonzinho tá fazendo fora da caixa?"
Olha com desprezo e sai andando.
"Princesa, não foge, não! Tem namorado?"
Correndo atrás - "Seu pai trabalha na lego? Porque a gente se encaixa direitinho!"
Chegando no carro - "Ô gatinha, dá um beijinho vai?"
Chega o galã de Bollywood segurando o cara - "Quer deixar a menina em paz?"
"Por que? Tá pegando?"
"Não. Mas poderia estar... Chega pra lá!"
"Aliás qualquer um de vocês poderiam estar pegando. Se não fosse esses tipinhos canastrões que chegam aqui azarando as estrangeiras e queimando o nosso filme. Já não basta a gente ter fama de usar esse bigodinho brega??? Quer pegar quem assim?
Tentando se justificar - "Mas..."
"A gente em Bollywood não usa bigode, não damos essas cantadas de baixo nível, cantamos e dançamos com a mulherada e, acima de tudo, tratamos elas muito bem! Tudo para mudar a imagem de que somos bregas. Aí vem esse sujeitinho com cantadas piores do que as do Aguinaldo Timóteo e Reginaldo Rossi juntos!!! Você vão deixar isso acontecer?"
Irritadíssimo - "Não fala assim do Reginaldo Rossi!"
Outro nervosinho chegando - "Ele tá certo! Reginaldo Rossi é o fim da picada!"
A partir daí se segue uma grande pancadaria. A turma a favor contra a turma que não gosta do Reginal Rossi. A tropa de choque indiana chega descendo o cacetete em todo mundo, leva uns 30 presos. Toda a cena é cortada devido à tamanha violência e só é mostrado a porta do carro da polícia se fechando.
"Ainda bem que a polícia chegou e pôs ordem na casa. Podem ir agora meninas. Qualquer coisa me liguem."
Levantando os punhos - "Hora de morfar!"
Todos juntos - "Vamos Rangers!"


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Polêmica na Copa Davis

Essa semana um tenista brasileiro deu uma declaração que abriu uma discussão entre ele o tenista indiano Mahesh Bhupathi. Perto da viagem da equipe brasileira à Índia para os jogos da Copa Davis, Ricardo Mello afirmou que a Índia “é um país sujo e miserável”.
Resolvi meter o bedelho na discussão: o máximo que podemos acusar nosso compatriota aqui é de ser politicamente incorreto. Digo isso porque até o olho mais cego enxerga que, sim, a Índia é um país sujo e miserável.
A miséria está em toda parte. Não há canto da cidade em que você não veja pessoas vivendo em extrema miséria. São crianças largadas, barracos que, muitas vezes, são mais parecidos com ocas, feitos de galhos de árvores e entulho das ruas. Os pedintes são vários, eu particularmente não consigo andar na rua aqui em Baroda: o fato de eu ser um estrangeiro faz com que os pedintes achem que você está cheio de dinheiro para dar.
A Índia tem um PIB per capita de US$1080 por pessoa por ano, comparado com US$8950 e US$3920 de Brasil e China, respectivamente. E a distribuição de renda é muito mais desbalanceada que no Brasil. Soma-se isso a uma densidade populacional de 397 pessoas por km2 (Brasil e China têm 22,7 e 141 respectivamente) faz com que você veja a miséria o tempo todo (dados do Wolfram).
A questão de ser suja também é inegável. Miséria é sinônimo de baixos níveis educacionais e baixo níveis educacionais é sinônimo de baixos padrões e pouca reivindicação de direitos. E é o que acontece aqui: as pessoas não brigam por seus direitos e também não exercem seu papel na sociedade, o que traz quilos e quilos de sujeira e lixo pelas ruas. Sem falar que a falta de infra-estrutura faz com que o poeira, ou lama nas monções, seja constante.
Um exemplo prático: na minha ex-casa nós costumávamos deixar o lixo na frente da nossa casa de tarde para que, na manhã seguindo o lixeiro recolhesse. Um dia eu vi um saco de lixo de casa, com os nossos conteúdos, jogado no terreno do fundo, já aberto e comido pelas vacas. Comentei com minha esposa e ela ficou de ver com a empregada o que havia acontecido.
O assunto ficou esquecido até que um dia, que eu também estava em casa, minha esposa pegou a empregada no ato de jogar o lixo no terreno dos fundos. Ela a instruiu para não fazer isso e para colocar o lixo na frente da casa. A empregada, que já estava de saída, levou o lixo para dentro do carro. Explicamos para ela que não era para levar o lixo embora mais sim deixá-lo na frente da casa. Aí veio a grande revelação: a minha vizinha da frente mandou ela não deixar lixo na frente da minha casa e, mandou, jogar o lixo no terreno do fundo.
Tem cabimento? A mulher morava no mesmo condomínio que eu, então não era uma pessoa qualquer, sem educação nenhuma. A história se encerrou no mesmo momento. Eu, aproveitando que a vizinha estava bisbilhotando da garagem da casa dela disse em alto e bom som para deixar o lixo na frente de casa só que do lado de dentro do portão, por que a casa é minha e eu deixo lixo onde eu quero.
E aí vem o terceiro grande ponto da polêmica: a água indiana serve ou não serve para escovar os dentes? Antes de vir para a Índia perguntei para outro consultor que já havia estado aqui (e odiado, por sinal) o que ele achou e o que ele tinha de recomendação. Em seu email ele me afirmou que na Índia “é necessário tomar banho com os olhos bem fechados e, após o banho, lavar bem os olhos e partes pudendas com água mineral para evitar infecções”. No mesmo email ele também me orientou a escovar os dentes com água mineral.
Agora vem o grande ponto de interrogação: de onde ele tirou isso??? Com certeza algum outro brasileiro infeliz que ficou aqui lavando o pinto com garrafinha de meio litro. Que, com certeza, recebeu informação de outro e assim por diante. Ninguém recebeu essa informação oficialmente.
A primeira vez que meu chefe veio para Índia ele trouxe uma quantidade tão grande de bombons, chocolates e barras de cereal que se o avião caísse no meio do atlântico ele tinha um mês de provisão. Tudo por que disseram para ele que é impossível comer a comida indiana.
No meu primeiro ano aqui eu era, e talvez continue sendo, o único brasileiro que escovava o dente com água da pia. Todos os outros usavam água mineral e diziam que eu ainda ia ter um problema por causa disso. São dois anos escovando o dente com água da pia e nada. (Se você é cheio de nojo pule para o próximo parágrafo) Admito que nunca, nenhuma única vez, deixei aquela bosta tenra e encorpada no vaso, mas também nunca passei aperto de ter que correr para o banheiro.
Enfim, aqui tem que se tomar cuidados, sim. Só cozinhamos com água tratada e só bebemos água mineral. Não confio em nenhum lugar público que tenha placa de água potável, prefiro morrer de sede. Mas nada de ficar neurótico evitando comidas e tomando banho de Don Perrier.
Para encerrar: ninguém gosta que os outros falem mal do nosso país, mas isso não significa que devemos fechar os olhos para os problemas existentes. Todos os países têm seus problemas e pontos fracos, como estrangeiro temos que nos adaptar a isso e como cidadãos temos que lutar para que as coisas mudem.

sábado, 11 de setembro de 2010

Welcome to Incredible India - Propagandas - I

Aqui na Índia existe uma campanha para educar as pessoas de maneira a respeitar o turista e os lugares turisticos. A campanha é feita pela televisão em curtas propagandas protagonizadas por um ator famoso de Bollywood.
As propagandas são úteis, feitas para dar lição de moral e educar a população em geral. Mas não deixam de ser bizarras para nós.
O melhor é que são todas em hindi, então o diálogo fica por sua interpretação. Segue a minha interpretação da propaganda abaixo:

"Me dá um beijinho? Me dá um beijinho?"
"Sai pra lá, kct!"
"Meu amor eu gosto tanto de você que vou escrever nesse monumento milenar nossos nomes. Quer ver? Quer ver?" - Pegando a pedra e cantando 'É o amor'
Chega o ator fudidão segurando a mão do cara e falando em ritmo de música "Mas você é um idiota mesmo... Deixa eu escrever na sua cara, dá sua testa aqui"
"hahaha" - as crianças achando bonito a humilhação. 
"O que é isso? O que é isso?" - diz o cara sem entender de onde um ator de Bollywood surgiu para dar um esporro nele.
"Essa pedra na sua mão. Acha bonito?" Virando-se para as crianças "Crianças, estão vendo esse babaca aqui? Ele ia pichar um monumento de dez mil anos de idade"
"UUUAAAAUUU! NOOOSSSSSAAAA!" Dizem as crianças espantadas
"Não sejam babacas como ele. Quando vocês crescerem têm que manter os monumentos da Índia em boas condições" Levantando os punhos "O poder é de vocês!"
Entra o logo da Incredible India
Crianças gritam "Vai Planeta!"
FIM

E o grande dilúvio se aproxima

Quinta-feira fez um dia aqui de fazer Noé colocar aquele olhar saudosista em sua cara barbuda. Acordei no horário normal e já escutei a forte chuva que fazia lá fora. Cheguei a ficar com dúvidas se levantava e enfrentava o caos que estava por vir, ou voltava a fechar meus olhos e dormir.
Decidi levantar e olhar pela janela. As ruas do meu condomínio estavam normais, sem aquela camada grossa de água que se forma quando chove sem parar. Eu, na minha inocência, imaginei que talvez as coisas não tivessem tão ruins e resolvi seguir em frente no meu esforço de ir trabalhar.
Me arrumei, tomei café e saí. O motorista estava na porta de casa, outro bom sinal. Por sinal, o último bom sinal. No caminho para o trabalho vários lugares que normalmente são mais tranqüilos estavam cheios de água.
Chegando ao distrito industrial, pouquíssimos carros se aventuraram a tentar chegar ao trabalho. Insisti. Tentamos a rua de trás da empresa e uma árvore havia caído e bloqueado o caminho. Voltamos e tentamos a rua da frente. Foi o momento em que me senti em Veneza novamente. Todas as ruas estavam como rios. Água cobrindo totalmente os pneus dos carros.
Voltamos para a rua de trás, que já havia sido liberada. Nos aventuramos atravessando um pequeno mar que se fez no percurso e, depois de levar mais de uma hora em um percurso de 30 minutos, cheguei à empresa.
No estacionamento havia menos de 10 carros. Aparentemente não era só eu que tivera dificuldades para chegar. Entrei no prédio e no andar em que trabalho, invés das 50 pessoas que normalmente estão lá, apenas cinco obtiveram sucesso para chegar ao trabalho.
Após menos de uma hora decidi voltar pra casa. A chuva não parava e a tensão de não conseguir voltar pra casa só aumentava. Na volta peguei carona com outro brasileiro que tem um carro maior, tipo um jipe. Ainda bem! As ruas estavam piores ainda, quase tudo cheio de água.
Passei o resto do dia em casa. Para piorar, de tanto que a energia elétrica vai e volta por causa das chuvas, o receptor da minha TV a cabo queimou e estou sem TV desde então. Resta ficar na internet mesmo.
Pena que não tenho fotos. Para falar a verdade eu até me lembrei de pegar a máquina fotográfica antes de sair de casa, mas quando estava a caminho de fazer isso pisei de meia em uma poça de água dentro do meu quarto. Fiquei puto e acabei esquecendo a máquina. Fica para próxima.
O negócio é focar no lado positivo e pensar que só faltam mais uns 10 dias para esse caos acabar.