quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Freakonomics

Não sou economista. Muito pelo contrário, conheço muito pouco do assunto. Sei o que é bom e o que é ruim para um país, mas não entendo exatamente como essas variáveis se relacionam e o que deve ser feito para que as coisas melhorem.
Mas depois de sete meses aqui na Índia, posso dizer que, como brasileiro, preciso falar sobre uma injustiça que fazem com o nosso país. Deixei claro que não entendo de economia porque essa é uma opinião de cidadão, sem embasamento técnico.
Não existe o menor cabimento em comparar o crescimento econômico do Brasil com o da Índia. E isso é um comentário feito constantemente – o Brasil está muito mal, crescemos somente 4% ao ano enquanto a Índia cresce 8% ou 9%.
Primeiro, como consumidor, posso dizer que prefiro crescer 4% com uma inflação de 5% ou 6% ao ano, do que crescer 8% com uma inflação de 12%. E esse é o cenário aqui. Já convivemos no passado com inflações absurdas e talvez aqueles que estão entrando no mercado de trabalho não se lembrem como era isso. O fato é que a inflação na Índia é mais perceptível nos mercados.
Do ponto de vista do trabalhador, prefiro morar em um país que cresce 4% mas com um salário mínimo de R$415,00, e não em um que cresce 8% com salário mínimo de R$150,00. Muitas pessoas trabalham ilegalmente aqui para conseguir algum dinheiro. Sem seguro de saúde, sem condições de segurança e sem aposentadoria. São empregos com margem de lucro zero, trabalham para conseguir pagar a janta.
Como empresário, prefiro ter minha empresa em um país que cresce 4% ao ano, mas sem preocupação com problemas de energia elétrica, do que em um que cresce 8% mas as faltas de energias são constantes, as vezes por horas. Aqui todas as empresas tem geradores próprios, existe um rodízio de energia para que as empresas não a utilizem todas ao mesmo tempo. Tem dias que não se consegue trabalhar pois não há energia para ligar os computadores.
O crescimento da Índia se dá baseado na exploração da mão-de-obra baratíssima, de uma estrutura ferroviária muito boa, apesar de lenta, e do fato que é uma cultura industrial recente. Não existiam muitas empresas na Índia no passado, agora é que elas estão se instalando devido ao baixo custo. Para ter uma idéia do que estou dizendo, o engenheiro que trabalha comigo, foi assistir televisão pela primeira vez a vinte anos atrás.
No fim é preciso entender que o crescimento econômico se dá através de um nivelamento. O que quero dizer é que, após a globalização, os países mais atrasados tiveram, e ainda tem, mais espaço para crescer mais rápido, mas não isso não significam que estão a nossa frente, mas sim que estão, aos poucos, chegando ao nosso nível econômico.
Não acho que vivemos em um país perfeito, muito pelo contrário. Mas viver em um país mais atrasado te faz valorizar mais coisas. Ainda acha que o Brasil deveria crescer como a Índia? Então venha morar aqui para ver os “benefícios” desse crescimento...

2 comentários:

Bruno Bordeaux disse...

Fala Fandagos! Tranquilo? Muito interessante esse comentário sobre as frequentes comparações da economia do Brasil com os demais países emergentes... (acrescentaria a China como outro país). Tb sou leigo no assunto de economia. Tive algumas disciplinas na faculdade, mas nada muito profundo. Concordo contigo que é preferível ter um crescimento menor, com uma inflação menor, e, portanto, um poder aquisitivo maior para população. No entanto, concordo parcialmente com a sua afirmação de que: "O crescimento da Índia se dá baseado na exploração da mão-de-obra baratíssima, de uma estrutura ferroviária muito boa, apesar de lenta, e do fato que é uma cultura industrial recente". Ao meu ver, esse modelo de desenvolvimento que você descreve é o chinês e não indiano. E aquela história de a India é o centro de serviços do mundo? Como explicar que a indústria de software indiana é tão desenvolvida? E a questão dos "cérebros" indianos que são exportados? Pelo que sei, o crescimento da India é misto. Existe a exploração da mão-de-obra (mob), mas tb vejo um crescimento com base na educação, ou seja, mob qualificada... É isso mesmo? Ou estou viajando? abssssssssssssss

GUI ® disse...

Vou dividir serviços em duas categorias:
Uma são os atendentes de serviços e telemarketing, para esses novamente se aplica a lei no menor custo.
Outros são a industria de software e até mesmo o número de doutores exportados pela Índia. Para mim isso é consequência natural do tamanho da população. Um país de 1,2 bilhões de pessoas tem que exportar pessoas para trabalhar já que aqui não tem emprego para todos.
Quanto a educação, a amostragem que eu tive não represanta a Índia, mas os engenheiros não são muito brilhantes, principalmente gerencialmente.
Posso dizer que são bons em softwares porque são bons em trabalhar sozinho. Mas isso já é uma outra postagem...