Acho que durante todo esse tempo eu nunca contei realmente como é trabalhar na Índia. Os estrangeiros aqui desenvolvem várias teorias sobre o comportamento dos indianos que trabalham aqui na empresa. Vou tentar explicar cada uma, porque no final todas elas são um pouco verdadeiras.
Teoria da Resistência Pacífica
Essa foi a primeira teoria que eu ouvi. Me disseram que a grande sacada de Gandhi para conseguir a independência da Índia foi não lutar contra a Inglaterra, mas sim não fazer mais o que ela pedia. A encheção de saco foi tanta que os ingleses resolveram voltar pra casa.
A teoria diz que isso moldou o comportamento dos indianos e que até hoje eles não fazem o que lhes é pedido por causa disso.
Na verdade o que existe aqui é uma extrema dificuldade de comunicação. A cabeça do indiano funciona de maneira diferente do que a do ocidental, somando isso à dificuldade com os inúmeros idiomas que existem aqui, fica realmente difícil entender o que e como queremos que seja feito.
O indiano é cíclico
Essa foi a segunda teoria que tentava explicar o grande esforço que tem que ser feito para realmente mudar as coisas. A teoria diz que o indiano é cíclico, ele muda quando lhe é sugerida a mudança, mantém o combinado enquanto você acompanha, mas quando você acredita que está tudo certo e vira as costas, ele volta para o início.
Essa tem uma grande verdade nos fatos. Fazer uma mudança por aqui é muito rápido. Não existe resistência. Eu costumo dizer que aqui não tem ninguém que joga contra, existem os caras que não jogam.
Mas também é verdade que, passado um tempo, eles tendem a voltar para exatamente a situação anterior. É como se não registrassem ou não percebessem a diferença na mudança. A grande energia que é necessária aqui não é na mudança – como normalmente é no Brasil – mas sim na sustentação.
O indiano não tem zona de conforto
Sabe esse negócio que a gente tem de sempre estacionar na mesma região no shopping ou supermercado? Ou de sempre fazer o mesmo caminho para o trabalho? Pois é, o indiano não sabe. Meu motorista muda o caminho para o trabalho pelo menos uma vez por semana, nem que seja uma rua diferente, mas ele muda.
Essa teoria dá suporte à teoria anterior: como não há zona de conforto é muito fácil para o indiano mudar um processo, mas também é muito fácil de não se fixar nele.
Maturidade Industrial
Essa é de minha autoria. Quando estava aqui em 2008, um pouco antes de ir embora, um dos engenheiros que trabalhava comigo – que é alguns anos mais velho do que eu – me contou que a primeira vez que ele assistiu TV ele tinha 16 anos. Meu pai viu televisão pela primeira vez com menos de 10 anos. E essa frase me fez refletir há quanto tempo a televisão é um item de fácil acesso na Índia e, como conseqüência, há quanto tempo a indústria realmente se instalou e cresceu na Índia.
Isso foi como uma luz para eu entender o estilo gerencial que impera aqui. Para mim as pessoas são bons profissionais/ gerentes porque souberam tirar o melhor de seus chefes e companheiros de trabalho. E essa “qualidade” se acumula de geração em geração.
Se apenas há 15 anos a indústria realmente se fixou na Índia, quantas gerações de chefes isso representa? Ou seja, esse acúmulo de experiência ainda é muito baixo, muito imaturo.
Enfim, todas essas teorias são para tentar explicar/ entender o porquê da cabeça do indiano funcionar tão diferente da nossa. Apenas quando realmente entendemos isso podemos melhorar nossa comunicação e tirar do indiano o melhor.
2 comentários:
Fala Morangão, aqui é o Lorran, blzinha? Nunca postei mas sempre que posso acompanho esse blog. Achei muito legal esses comentários. Tenho trabalhado em um projeto de veículos e muitas das pessoas são da Índia. Pra mim é muito interessante ler isso e entender um pouco das razões de comportamento desse pessoal. Abraço e boa sorte
e ai, aposentou a caneta? Escreve ai mano!
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